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ESTADO DA ARTE DE RECUPERAÇÃO DE PROPULSORES NAVAIS TIPO HÉLICE DA REGIÃO AMAZÔNICA

C. A. M. da Mota, V. A. de Souza

Departamento de Engenharia Mecânica, Centro Tecnológico, Universidade Federal do Pará, Campus Universitário do Guamá, Belém PA, CEP 66020-020

Palavras-chave: Soldagem, Recuperação, Hélice, Macrografia, Transporte.

Resumo

Na Amazônia encontra-se a maior bacia fluvial do mundo que é formada por uma grande quantidade de rios navegáveis. Pequenas embarcações são, na maioria dos casos, os únicos veículos integradores de longínquos povoados ribeirinhos aos centros mais desenvolvidos da região. Estas embarcações transportam remédios, correspondências, alimentos industrializados, doentes, escoam os produtos regionais e, principalmente, possibilitam a integração sócio-cultural destas populações, a um custo acessível e bastante reduzido. Neste sentido, uma pane inesperada nestas embarcações, durante uma viagem, pode causar uma parada prolongada, atrasos e prejuízos irreparáveis, inclusive com perda de vidas humanas. As hélices propulsoras destas embarcações são de fabricadas e recuperadas na região através de métodos totalmente empíricos sendo, portanto, um elemento crítico causador de paradas não programadas. A importância deste estudo deve-se a necessidade de inserir melhoramentos no sistema de recuperação destes propulsores para reduzir o empirismo desta atividade, aumentar da vida útil e o seu desempenho, de modo a gerar maior segurança aos usuários desse tipo de transporte.

O estudo se desenvolveu com uma pesquisa de campo realizada em diversas oficinas regionais de fabricação e recuperação de hélices localizadas no Estado do Pará, abrangendo as cidades de Belém, Abaetetuba, Igarape-mirim, Almerin e na Vila de Icoaraci, e no Estado do Amapá, cidade de Macapá, com entrevistas e a aplicação de formulários e questionários para a coleta de informações e dados técnicos. Destas visitas, pôde-se constatar que não existe um critério padrão para a seleção de materiais ou no procedimento de soldagem, o que causa falhas na união recuperada como porosidade, trincas, descontinuidades geométricas, má aparência da junção etc. Na oportunidade podemos acompanhar algumas recuperações, analisar os procedimentos empregados e, posteriormente, o estado superficial da união, bem como detectar as condições de funcionamento e de trabalho desenvolvidas nas oficinas visitadas. O resultado dessas entrevistas, análise dos formulários e questionários vem mostrado resumidamente abaixo. Trata-se de um resumo, em ordem de ocorrência, das técnicas de recuperação de propulsores tipos hélice mais usadas pelas oficinas visitadas, e basicamente consiste de:

Se o defeito ou quebra encontrar-se na ponta da hélice:

1- Escarea-se a ponta da hélice

2- Enche-se com metal de adição a ponta da hélice, utilizando solda oxiacetilênica

3- Faz-se o desempeno com batidas a frio ou prensas

4- Balanceamento com contra-balanço.

Se o defeito ou quebra encontrar-se no meio da hélice.

Para os defeitos ou quebras localizadas no meio das hélices o procedimento básico adotado é:

1- Escareação de ambos os lados

2- Pré-aquecimento

3- Alinha-se a aplica-se o solda oxiacetilênica em cada lado

4- Retira-se o excesso de solda, normalmente com esmerilhadeira

5- Desempena-se com batidas a frio ou prensas

6- No balanceamento utiliza-se contra-balanço.

Se o defeito localiza-se próximo ao centro da hélice:

Normalmente as oficinas que trabalham apenas com recuperação não fazem este tipo de serviço, porque dizem que "a solda não segura" ou "a hélice não acompanha a rotação do motor". Nas oficinas que além da recuperação também trabalham com fundição, utilizam as hélices quebradas para serem refundidas e darem origem a novas hélices. A análise metalográfica procura verificar possíveis defeitos existentes na estrutura da peça tais como fratura, existência de marcas de pancadas, gripamentos, vestígios de soldas, porosidades, trincas, mordeduras, corrosões, desgastes, enterramentos, etc. Os corpos de provas utilizados nessa parte experimental, foram coletados nas oficinas recuperadoras de hélices mencionadas. Dessas oficinas foram coletados algumas hélices ou pedaços destes recuperados utilizando os procedimentos usuais das oficinas (oxiacetilênica).

Notamos que os corpos de prova analisados apresentam a mesma estrutura, porém o reagente utilizado não revelou o metal de adição, caracterizando que o mesmo é um material diferente daquele usado para fundir a hélice. Como pela análise metalográfica notou-se que o metal de adição pertence a um material diferente do material da hélice, poderia fazer a sugestão ao dono da oficina para que ele utilizasse como material de adição uma vareta com o mesmo material da hélice, fundida em sua própria oficina. Os poros localizados na zona de ligação do metal de solda podem ser resultantes da diferença de material da hélice e do metal de adição, ou de procedimentos incorretos durante a recuperação, uma vez que os donos de oficinas não têm qualquer conhecimento das técnicas mostradas na literatura e os conhecimentos são passados no dia-a-dia da oficina. Em relação às trincas e poros espalhados pela peça, certamente são resultantes do método utilizado para fabricação da hélice e cabe fornecer estas informações aos fabricantes para que sejam tomadas as devidas providências no âmbito de melhorar as qualidades do produto final.


Referências:

NAZARÉ, Ramiro. O Complexo Amazônico e sua Navegação Interior. Belém: Cejup, 1993.
IDESP, Diagnóstico do Setor Portuário e Fluvial Marítimo do Estado do Pará. Belém: 1974.
MACHADO, I. G. Soldagem e Técnicas Conexas: Processos. Porto Alegre: Editado pelo autor, 1996.
BRAGA, E. de Magalhães & MOURA, R. Raposo de: "Tensão Superficial e Junção de Metais". Tecnologia de Soldagem, 1991.